Processo
Em 2008 o Mestrado em Design de Equipamento na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa teve o seu início. Nesse ano inscrevi-me nesse mesmo mestrado.
Terminei-o em 2011 e nessa altura fui convidado pelo Professor Paulo Parra a juntar-me à equipa de docentes. Estou há 11 anos a leccionar a cadeira de Design de Produto e Serviços e a cadeira de Inovação e Design Thinking.
E a missão, minha e dos meus colegas, é muito simples e continua a mesma: formar os melhores designers e as melhores pessoas.
O mestrado está inteiramente focado numa orientação profissional. Ensinamos os nossos alunos para que estes saibam trabalhar no mundo real. Colaboramos sempre com empresas (industriais e de serviços). No mínimo, uma empresa por semestre. Não fazemos enunciados. As empresas fazem briefings de projecto com base nas suas necessidades reais.
Os professores actuam como directores criativos. Os alunos como a equipa de projecto. Estamos todos do mesmo lado e trabalhamos em equipa. Sempre em equipa. O processo segue uma metodologia própria que se mune de ferramentas capazes de criar sentido aos utilizadores, ao mercado e à indústria. Colaboramos com outras disciplinas para integrar em Projecto recursos como o design thinking, a sustentabilidade e a economia circular.
No final de cada semestre apresentamos os resultados às empresas, que avaliam o nosso trabalho. Não apresentamos só conceitos. Apresentamos soluções concretas, fundamentadas em investigação, que criam oportunidades para as marcas com quem trabalhamos. Nessa altura, não são os alunos os únicos a serem avaliados. É o curso e é a Faculdade de Belas Artes.
Se correr bem, os resultados são produzidos, implementados e entram no mercado. Se correr mesmo muito bem, os alunos são integrados nos quadros das empresas.
Quando me pedem para resumir o que distingue o nosso mestrado e aquilo que tem vindo a ser potenciado nestes 14 anos, eu digo:
A prática em sala de aula replica o ambiente de atelier. O espaço está sempre disponível e está sempre a acontecer alguma coisa. O projecto, o processo, o design, está sempre presente.
Depois temos o cliente, que faz e lança o briefing, que actua como elemento externo. Para muitos alunos é a primeira vez que esta figura entra no processo. Os timings também não são fáceis, temos de cumprir com a expectativa do cliente. É ele que os define. E depois temos a crítica dada pelo cliente, que é sempre diferente da crítica mais pedagógica dos professores.
É este choque com a realidade que faz com que os alunos tenham uma experiência verdadeiramente alinhada com o mercado de trabalho.
Nestes 14 anos já editámos vários produtos com a Vista Alegre e com a Spal; já produzimos mobiliário com a TemaHome; já criámos linhas de produtos para marcas como a Dedal; óculos com a Shamir; entre outros.
Esta é a grande recompensa. A possibilidade dos nossos alunos industrializarem as suas propostas e acompanharem junto do cliente todo o processo de desenvolvimento do seu produto. Aqui está outro nível de formação e conhecimento. Além disso, a integração dos alunos nos quadros das empresas, através de estágios, tem sido frequente e é cada vez mais uma aposta nossa.
É esta possibilidade de concretização que motiva os estudantes e que os inicia na sua carreira profissional.
A nossa metodologia de projecto levou-nos a aperfeiçoar nestes 14 anos a prática do design em três eixos: as pessoas, a indústria e o mercado.
Tudo o que fazemos é baseado nas pessoas, são elas o foco. Com o utilizador, os alunos identificam as oportunidades e validam as soluções.
Tudo o que criamos é para ser produzido e implementado da forma mais sustentável possível e, portanto, o estudo das técnicas e tecnologias produtivas é fundamental.
Tudo o que propomos tem de ser economicamente viável para o cliente, tem de ter o seu espaço no mercado e tem de estar alinhado com as tendências.
Do início ao fim do projecto, o processo de trabalho é definido e orientado por estes 3 eixos. Sempre.
Isto tudo faz sentido? Se faz sentido no mundo real da prática do design, faz sentido no Mestrado em Design de Equipamento da FBAUL.
E é por isso que quando me pedem para resumir tudo isto, o que eu digo é que para os nossos alunos já não é uma questão de passar com 12 ou com 18 valores. É uma questão de cumprir com as expectativas do cliente. É isso que faz deles verdadeiros designers. Ou como diz uma aluna minha, os “ninjas do Chiado”.
Artigo escrito para a publicação “Design de Produto e Serviço – Ensinar com a Indústria” editado pelo Paulo Parra em 2022, com co-autoria de Paulo Parra, André Gouveia e João Rocha.