Pensamentos
Estou há quase 20 anos ligado ao desenvolvimento de novos produtos, em colaboração com empresas e marcas (estabelecidas ou startups), com quem definimos estratégias de produto com valor para o utilizador e orientadas para uma produção em massa. Regra geral não criamos conceitos, criamos produtos reais, que as pessoas usam e usufruem.
Quando me “profissionalizei” em design não se falava de sustentabilidade nem tão pouco de circularidade. Falava-se de ecologia e de eco-design. Aprendi que estes conceitos eram tão importantes como a funcionalidade ou a ergonomia e eram indissociáveis da prática em design. Continuo a acreditar nisso. Mas estes 20 anos a trabalhar na economia real ensinaram-me algumas estratégias sobre sustentabilidade, que passo a partilhar.
Se o produto é “mais sustentável”, óptimo, não vale a pena colocar mais selos no produto por causa disso, e acima de tudo não vale a pena torná-lo mais caro por essa razão (quando não tem de o ser). As pessoas querem confiar na responsabilidade ambiental das marcas e dos seus produtos. Essa responsabilidade é nossa. A sustentabilidade não pode ser um atributo, tem de ser intrínseca.
Sempre que penso neste tema lembro-me da gelatina. Compramos um pó, juntamos água e puff … criamos um produto. Porque não haver mais produtos assim? Detergentes concentrados. Produtos de higiene concentrados. Perfumes concentrados. Na maioria das vezes, quando compramos estes produtos, estamos em grande parte a transportar água e ar de um lado para outro.
O que tem significado para as pessoas torna-se indispensável. O que é indispensável não é descartável. Se não descartamos, dura. E o que dura é sustentável. A sustentabilidade tem de começar e acabar nas pessoas.
O café extraído do grão é melhor que o café em cápsula. É um facto. Os sistemas unidoses precisam de ser repensados. Criaram comodidade mas promoveram uma ineficiência no consumo. A compra a granel e em volume está a voltar a ser uma tendência e devemos promover a mesma, juntamente com os sistemas de refill (que até já existem via subscrição).
Aproveitem e conheçam a EcoXperience (design e estratégia by INNGAGE).
Exemplos: plástico recolhido do oceano; plástico misturado com bambu; produtos em cortiça e palha de trigo; cartão reciclado; entre outros. Em produtos de consumo rápido, estes materiais podem ser mais prejudiciais que os materiais ditos comuns. Devemos procurar usar os materiais de forma honesta.
Foi nos anos 70 do século passado que o tema da ecologia se tornou urgente no design, e eu continuo a acreditar que o Victor Papanek (um dos precursores da temática) tinha razão quando afirmou que “a única coisa importante no design é a forma como este se relaciona com as pessoas”. Confiar em processos de design centrados nas pessoas trará ao mundo produtos mais úteis, mais funcionais, mais ergonómicos, mais inovadores, e acima de tudo mais sustentáveis.
⭡Voltar ao topo